terça-feira, 4 de março de 2008

"De antemão..."


De antemão, não sei se inferi nesta cartinha infantilidade ou mesmo pieguices. Tal carta no início tinha o propósito explícito de iniciar com mais voracidade essa sementinha da amizade que esta sendo regada. Mas, logo me deparei com uma situação controversa: Por que me sinto na necessidade de entregar-lhe essa cartinha? Se uma maturidade tal seria revelada se por mim mesma dissesse, como requer palavras antes ditas com honra? Eu mesmo detenho a absurda resposta para tal questão... Não digo pessoalmente, não porque há vergonha membrada de pudores... Mas, porque acredito que não estamos vivendo na antiguidade e mesmo nela, não haviam apenas palavras ditas com honra. Hoje em dia uma palavra dita pode ser tão verídica e real ou ao mesmo tempo tão mentirosa e fantasiosa... Nós sabemos disso, eu não julgo coisas sobre as quais não vivencio. Partindo desse pressuposto, tanta enrolação e formalidade me distanciam do propósito real, que seria adequar-se ao mundo contemporâneo, onde a palavra não é meu álibe, só é, se vier seguido de uma declaração com número do CPF e RG, comprovante de residência, se estou no SERASA ou CPC... Quem sabe tenho referencia da dona do supermercado, ou sou parente daquele que passou no concurso, se o currículo é com foto, o irmão tem ou não passagens pela polícia... Enfim, se tenho ou não tenho popularidade... A vizinha me conhece, se eu estava envolvida naquela confusão ou apareci num programa de televisão e etc... No mundo de hoje é mais ou menos assim, mas quem sabe não me importo... E não farei essa carta inicialmente na intenção de que seja uma declaração de meu apreço...

Sendo assim, de antemão desconsidere a introdução, me vejo sempre numa situação constrangedora quando tenho a missão de começar ou terminar um texto, tanto, que minhas cartinhas não tem menos de duas páginas... Isso se deve a um medo recorrente de ser mal interpretada e isso ocorre até mesmo pessoalmente, julgando-se pela maldade, senso aguçado ou interpretação das pessoas... Nem por isso mudo meu jeito, nem por isso mudo certos conceitos, sabendo que eles me farão digna da felicidade ou infelicidade depois e sabendo que um dia quem sabe possam ser revisados... Nem por isso deixo de me contradizer...

Dessa vez vou tentar fazer diferente e incluir tudo em apenas duas páginas. O que eu acho bem pequeno para o tamanho das minhas tradições e contradições...

Conhecemo-nos num desses vais e vens de uma micro-empresa qualquer que deveras poupar “merchandisers” (merchandagens)... E tão rapidamente preocupou-se com meu estado por dentro do sorriso acolhedor de uma recepcionista. Viu-me como os verdadeiros amigos vêem, com os olhos que não são os comuns. Com os olhos sedentos de verdade... Com perguntas que vão ao fundo da obscuridade e em um segundo vemo-nos numa situação inexplicável, onde de antemão um desconhecido revela em poucos segundos, o que você esta sentindo em séculos e ninguém percebeu... Não sei se me empolgo demais, é que em certas feitas no arado, jogamos verde para colher maduro e se esse for o caso, sou a “garota” mais idiota e burra ou a mais esperta e inteligente. Idiota e Burra, pois, já devo imaginar o que vai acontecer, já me aconteceu muitas vezes e dói, corta o coração com bisturi não esterilizado. Esperta e inteligente, porque ainda consigo analisar além... E mesmo assim ha modesta de tentar outra vez e coragem de ousar se machucar novamente. Sim, tentar uma amizade outra vez... Voltar a confiar numa pessoa cuja malícia de ver meu estado de espírito parece superar aos das pessoas que me rodeiam á anos e que perderam a capacidade de me ver... Não posso passar de duas páginas, então...

De antemão, agradeço. Agradeço por chegar a mim como quem não tem maléfico interesse se não o de saber como realmente estou indo, como estou me sentindo... Agradeço por contar-me coisas que normalmente não contaríamos a uma recepcionista... Por tratar-me como uma amiga de infância quando nem mesmo lembrara o meu nome certo... Agradeço simplesmente por estar regando assim como eu o início de uma amizade plena. Não posso ser incoerente e dizer que isso durará para sempre, afinal não quero e nem devo parecer pueril. As plantas crescem, se desenvolvem, envelhecem e simplesmente morrem, como os seres humanos também morrem... Como as amizades baseadas em alicerces falsos também morrem... Como nossa confiança um dia morre. Mas, como sempre haverá de ter um “mas”...

De antemão, digo-lhes com a tal verdade e sinceridade que habita no meu peito e sempre habitará para pessoas como você: Não sei se és verdadeira comigo, não sei se isso dará “um sempre” como sonham as pequeninas com suas primeiras coleginhas de infância... Não sei da verdade que rodeia a incerteza da certeza do incerto. Eu nunca sei do futuro, quase nunca sabemos e é por esse motivo que digo confiar em ti. Porque nunca saberei se me trairias se não tentasse, nunca posso cogitar que não fui amiga de ciclano ou beltrano, pois, ele ou ela poderia um belo dia me machucar, de modo que a amizade regada com o sal de lágrimas morresse com pétalas secas e murchas... Quando eu confio numa pessoa acabo revelando meu ponto fraco, que já não é tão fraco quando sei que ele é fraco. Que já não é tão forte quando sei que ele nunca foi forte... Dou-me para aquele indivíduo... Já tive quedas horrendas de precipícios e abismos que pareciam o fim, a ultima gota ou o suspiro mortal... Podes hoje com credibilidade dizer-me que sou uma imbecil por confiar novamente, mesmo que em você. Posso um dia concordar veementemente, quem sabe passe adiante este conselho que não sei se é construtivo ou destrutivo. De uma coisa sei, aliás, nem sei... Sinto-me hoje um fracasso... E como me disseram ontem mesmo “-Só faço escolhas erradas!” e como me disseram semana passada “- Meu sangue atrai pessoas ruins!”... Porém, quando por minha cabeça no travesseiro e lembrar das risadas que me fez, do desabafo que me de-sufocou, do momento quase incrédulo em que meu pesar era apenas um piada engraçada... Bom, analisarei tão detalhadamente cada item de cada frase que me disseram e desconsiderarei as mínimas e as máximas. Ficarei novamente só (,) com os meus conceitos, novamente vou aprender com os meus erros, eles servem pra isso e pra outras coisas... Novamente tentarei sair de um erro e se nessa tentativa entrar em outro como quase sempre acontece não vou dar ouvidos a quem consegue com uma palavra me colocar no “fundo do buraco” (e não ao fundo do poço, que é quando normalmente nos levantamos). Vou dar vazão á pessoas como você, que embora por venturas possa um dia me machucar, durante o momento em que serei “tua”, na minha inteira doação amiga, vou sentir a felicidade intensa (que é composta por tristezas e alegrias) o real valor, a real recompensa de dar-me uma chance de apenas... E apenas... E apenas... Que só os amigos nos dão...

De antemão é só isso! De antemão é o que posso lhe oferecer, mais do que a mim mesma. E se não for o suficiente, tratarei de providenciar os papéis das declarações com todos os documentos em dia, com todo o meu histórico, com meus antecedentes...Tudo, de antemão...

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